Contando em Guarani.
Aldeia indígena. Ocas dispostas em círculo. |
Será que os
nossos indígenas sabiam contar? O que vocês acham?
Creio que
eles tinham que saber contar. Era preciso contar o número de filhos, o número de
peixes pescados, o número de peças de aves ou animais silvestres caçados. Muito
importante o número de inimigos mortos ou aprisionados em combate em suas
disputas por território ou outras desavenças existentes. Quando eu morava em
Foz do Iguaçu, logo depois de casado, o senhor Angel Augusto Conti, pai de
minha esposa Rita, me ensinou a contar em guarani.
Uma casa de reuniões circular |
Imaginem o
que eles usavam como base para o sistema de numeração. O que anda sempre junto
com a gente, onde quer que estejamos? Certamente que a resposta é nosso corpo. Nesse corpo temos duas
partes simétricas que são as mãos. O que temos em cada mão? Cinco (5) dedos.
Juntas elas tem dez (10) dedos. Eu não tinha certeza de como seriam escritas as
palavras e procurei na internet, onde encontrei um texto escrito por um indígena,
formado professor e que fala exatamente sobre isso. O link para acessar o texto
é https://guaraniuruity.wordpress.com/2011/06/27/historias-dos-numeros-guarani/.
Ele começa falando na questão da área, uma das coisas importantes na vida
deles. O tamanho de uma casa, um pedaço de terra e por aí afora.
O sistema de
numeração, tendo por base os cinco dedos de uma mão, é portanto um sistema de
base 5. Se fôssemos escrever em algarismos arábicos teríamos: 0, 1, 2, 3, 4 e
5. Daí para frente começaríamos a formar grupos de cinco, isto é uma mão. As
duas mãos, dariam dois grupos de cinco e portanto 10. O quinze seriam três mãos
e assim por diante. Entre os nomes da numeração que o texto me forneceu e o que
eu havia aprendido há quase 40 anos, existe uma pequena diferença que eu não
sei exatamente qual é a razão. Provavelmente uma diferença de diferentes grupos
étnicos ou algo assim.
Vejamos
então: Petei = 1 ( til sobre o i, mas o editor não
aceita).
Mokoi = 2
(também tem o til no i)
Mboapy = 3
Irundy = 4
Petei po = 5 [um(a) mão]
Mboapy meme = 6
Mboapy meme petei = 7
Irundy meme = 8
Irundy meme petei = 9
Mokoi po = 10 [dois(duas) mãos]
Aqui o texto parou e não informou
como prosseguiria a contagem depois de dez. A diferença de que falei acima, é
nos números 6, 7, 8, 9. Na forma como aparecem no texto dá impressão de que são
tidos como 6 = três duas vezes, ou dobro de três. 7 = dobro de três mais um; 8
= dobro de quatro e 9 = dobro de quatro mais 1. Procurei num mini-dicionário (http://povodearuanda.wordpress.com/2007/12/03/mini-dicionario-tupi-guarani/),
mas não encontrei o termo “meme”. Por isso tenho a impressão de que havia
divergência entre diferentes etnias guaranis (Guarani Kaiowa, Guarani Nhandeva e Guarani Mbya), espalhadas por
boa parte do território nacional, inclusive Uruguai e Paraguai.
Eu havia aprendido a chamar o seis
de:
Petei po petei = uma mão e um
ou 5 + 1 = 6
Petei po mokoi = uma mão e
dois ou 5 + 2 = 7
Petei po mboapy = uma mão e
três ou 5 + 3 = 8
Petei
po irundy = uma mão e quatro ou 5 + 4 = 9
Conforme falei antes, isso deve ser
devido à diferenças étnicas e regionais. Embora, dentro da lógica matemática, a
forma de agrupar como eu havia aprendido parece mais racional e lógica. No
entanto não sei dizer com certeza qual é a opção correta ou verdadeira. Talvez
ambas dependendo da população.
Seguindo a contagem na forma como
aprendi, teríamos:
Mokoi po petei = 11 (duas mãos e um)
Mokoi po mokoi = 12 (duas
mãos e dois)
Mokoi po mboapy = 13 (duas
mãos e três)
Mokoi po irundy = 14 (duas
mãos e quatro)
Mboapy po = 15 (três mãos)
Mboapy po petei = 16 (três
mãos e um)
Mboapy po mokoi = 17 (três
mãos e dois)
Mboapy po mboapy = 18 (três
mãos e três)
Mboapy po irundy = 19 (três
mãos e quatro)
Irundy po = 20 (quatro mãos)
Irundy po petei = 21 (quatro
mãos e um)
Irundy po mokoi = 22 (quatro
mãos e dois)
Irundy po mboapy = 23 (quatro
mãos e três)
Irundy po irundy = 24 (quatro
mãos e quatro)
É provável que houvesse algum grupo
indígena com uma forma de contagem além desses números, mas não sei ao certo,
nem encontrei registros. O mais provável é que daí para frente, eles não
sentissem necessidade de contar, pois passava a ser considerado “muito”. Os
gestos com as mãos provavelmente davam conta do recado. Isso pode ter gerado
muitas dúvidas pois muito é bem genérico e impreciso. Para as condições de vida
dos indígenas na época em que os brancos aqui chegaram, dificilmente houvesse
necessidade de contar além de 24 ou talvez 25. O resto ficava por conta de “muito”
e pronto.
Lugar de reuniões dos homens da tribo. |
Ocas feitas totalmente de palha e varas ou bambu. |
Ao aprendermos os números,
inicialmente fazemos uma ideia errônea a respeito. Eles nos parecem os únicos símbolos
numéricos. Depois de algum tempo aparecem os algarismos romanos, onde existem símbolos
diferentes e o que eles representam, depende da posição em relação ao símbolo
de maior valor que vem ao lado. Por exemplo: I = 1; V = 5. Se escrevermos IV = 4, ou seja o 1 é subtraído
do 5. Se ao contrário escrevermos VI = 6 ou VII = 7 ou VIII = 8, o 1, o 2 ou 3
são somados ao 5.
Já X = 10 e IX = 9, XI = 11, XII =
12, XIII = 13 e XIV = 14.
Imaginaram fazer cálculos como
adição, subtração, multiplicação e divisão, usando algarismos romanos em lugar
dos habituais arábicos? Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Ficaria
um bocado mais complicado, embora não impossível. Eu nunca tente, mas prometo
que num momento de folga vou tentar e ver como é que fica. Se valer a pena,
escrevo um artigo contando o resultado, porém não prometo para quando. Até mais
Décio Adams
Nossa que interessante a forma deles fazerem matemática vou indiquei para meus amigos no face https://www.facebook.com/Dandoumgoogle/posts/896764110342300
ResponderExcluirObrigada isso é muito valioso.
Muito legal,eu quero sua ajuda para fazer um plano de aula de matemática em guanandi aki na minha aldeia me ajude
ResponderExcluirMAMADINHA 3 real
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