terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Um pouco de História do Brasil - Parte III - Gruta do Monge na Lapa - PR


Fotografia de João Maria

Relevo em bronze no pedestal do Gen. Carneiro, Lapa -PR.

Ao que me consta, ruina remanescente do Cerco da Lapa, durante a Revolução Federalista.
Parque do Monge existente em União da Vitória.


Parte III

A gruta do monge – Lapa – PR.

Lugar impressionante. Imensos paredões de arenito se ergem por todos os lados. Uma pequena passagem de acesso. 

Creio que foi em 2007, exatamente há 7 anos passados, o amigo de meu filho Décio Junior e acordo com este, resolveram levar minha esposa e eu fazer um passeio na gruta do monge, município da Lapa, não longe daqui. Para ser sincero, até aquele momento nunca ouvira falar desse lugar mas fiquei encantado. Passamos algumas horas agradabilíssimas no alto do maciço rochoso, acessível por uma estrada que sobe por uma das vertentes, onde isso é possível. A face voltada para a área urbana é um penhasco abrupto. Bem no alto, existe uma área bastante ampla, com instalações para piquenique, recreação e descanso. O por do sol, dizem é belíssimo visto dali. Porém, já na época, o período de visitação terminava ao se aproximar o escurecer, não sendo permitida a permanência no alto durante o período noturno. Eu havia feito registro fotográfico de todo o passeio e estava em meu computador. Porém mudanças de máquina, um acidente que danificou um HD e sem back-up, parece que me fizeram perder as imagens.

O que me faz lembrar desse passeio é o assunto que abordei nas duas partes anteriores. Em toda documentação histórica relativa à Guerra do Contestado, existe uma figura proeminente, sempre presente e citada. É o monge João Maria Dagostini, também denominado São João Maria, por grande parte do povo de Santa Catarina, especialmente na região envolvida no conflito. Em minhas pesquisas sobre o assunto, estou lendo a Tese de Doutorado de Tania Welter pelo Instituto de Antropologia da UFSC. Em suas pesquisas e nos textos introdutórios ela fez referência à presença de João Maria numa gruta na Lapa – PR. Imediatamente me liguei no fato. Eu visitei essa gruta, tirei fotografia em seu interior. É um lugar magnífico e decidi pesquisar.

Há na Tese citada a transcrição de um documento de ingresso no país, datado de 1844, onde é registrada a entrada de João Maria, proveniente da Itália, num dos portos do Brasil. Não lembro exatamente qual, mas isso é menos importante. No site do Wikipedia, sobre a Gruta do Monge na Lapa – PR, encontrei indicação de que essa gruta teria servido de abrigo ao mesmo indivíduo em 1847. Não resta dúvida que foi ele, pois as fotografias encontradas, pinturas que remontam à época de sua passagem pelos lugares onde é relatada sua presença, são as mesmas. Parece mesmo que foi tirada do segundo monge João Maria de Jesus, mas por todos reconhecida como sendo também do primeiro, devido a enorme semelhança de traços fisionômicos e demais aspectos exteriores, bem como comportamentais.

Maiores detalhes sobre a permanência na gruta eu procurei na internet, porém não encontrei. Talvez seja preciso fazer uma pesquisa local, conversar com pessoas nativas da região, famílias ali radicadas desde o século XIX para obter maiores detalhes. O que não resta dúvida é sobre o fato de a mesma figura, de cuja passagem há fortes sinais em toda região do território do Contestado, bem como no interior do Estado do Rio Grande do Sul, chegando inclusive à fronteira com Argentina e Uruguai. Seu desaparecimento ninguém sabe referir com exatidão. Há quem situe esse acontecimento em 1875 e até 1908 ou mesmo 1930.

E mesmo a imortalidade lhe é atribuída pelos mais convictos, indicando que estaria vido até hoje, no alto de um morro bastante inóspito, tendo quase 200 anos de idade. Coisas do imaginário popular. O certo é que sua atividade amistosa, pregando valores religiosos, cristãos, entremeados com algumas superstições. Isso, numa época carente de representantes eclesiásticos nessas regiões, era de extremo conforto para o povo simples, praticamente desprovido de outros referenciais relativos à religiosidade. Embora seu nome tenha sido muitas vezes associado à eclosão da Guerra do Contestado, depoimentos diversos encontrados na Tese de Paulo Pinheiro Machado, negam terminantemente esse envolvimento. É referido sempre como homem pacífico, não gostava de ajuntamentos, seus lugares de pouso eram sempre arvores frondosas, próximo de fontes de água. Estas são até hoje tidas como santificadas e usadas em diversas aplicações de cunho religioso não oficial.

Ele dava conselhos, indicava uso de plantas para obter alívio de males do corpo. Por toda parte costumava deixar marcada sua passagem com a colocação de grandes cruzes de cedro, símbolos de Deus, da religião. Os rebeldes se apropriaram desses símbolos e, pelo menos no início, diziam lutar pela “Santa Religião”. Veneravam São João Maria, Virgem Maria e São Sebastião, com seu exército encantado.

A tese de Tânia Welter é dedicada ao estudo da figura de João Maria e sua significação na religiosidade difusa no âmbito popular, especialmente no Estado de Santa Catarina. Ela denomina aqueles que conservam tradições, praticam rituais com fundamentação na figura do monge, de “joaninos”. Relata várias práticas comuns na região, das quais ela participou a convite, descrevendo em detalhes os procedimentos. Para citar alguma coisa há a chamada “Reza dos 25”, feita no dia 25 de março, no interior de uma capela ou igreja, mas sem presença de representantes do clero. É um ritual penitencial. Também os ternos de recomendação ou encomendação das almas, especialmente no período da quaresma, com um misto de intercessão pelo descanso dos falecidos, como pedir sua intercessão em diversas circunstâncias da vida. Há inclusive uma passagem de um dos cantos que guarda semelhança com outra encontrada nos cantos do Terno de Reis. Lembro pois uma vez participei no tempo em que morava na cidade de Brasnorte – MT. Quem levou os textos e melodias foi o hoje esposo de minha prima Roseli, Luciano Brixner.


Vou colocar aqui na seguência, algumas imagens encontradas na internet, pois me lembram perfeitamente o dia que passei no morro e percorri suas trilhas, bastante íngremes e estreitas em muitos lugares. Uma imensa escadaria para alcançar o nível em que se localiza a gruta, diversos oratórios instalados em pontos apropriados. 

Mirante no alto do morro. Ao longe cidade da Lapa.

Parapentistas saltando do alto do morro.
Assisti o voo e pouso de vários na ocasião em que estive aí. 



Trecho final da escada de acesso à trilha do monge. Caminhei por aqui. 

Escada vista de baixo. São intermináveis degraus a vencer, especialmente na hora de subir.

Alto relevo do busto de João Maria.

Trecho íngreme e estreito da trilha. 

Oratório na área da gruta. Estive nesse lugar. Sinais de devoção e fé em toda parte.

Parte  mais ampla da trilha. 

Ponto de passagem estreita, protegido por barras de ferro.
Pessoas com deficiência tem dificuldade em passar. 

Trilha passando rente ao paredão rochoso. 

Outro oratório.

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