quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Contar em Tupi-guarani




Contando em Guarani.


Aldeia indígena. Ocas dispostas em círculo.

            Será que os nossos indígenas sabiam contar? O que vocês acham?
            Creio que eles tinham que saber contar. Era preciso contar o número de filhos, o número de peixes pescados, o número de peças de aves ou animais silvestres caçados. Muito importante o número de inimigos mortos ou aprisionados em combate em suas disputas por território ou outras desavenças existentes. Quando eu morava em Foz do Iguaçu, logo depois de casado, o senhor Angel Augusto Conti, pai de minha esposa Rita, me ensinou a contar em guarani.
Uma casa de reuniões circular


            Imaginem o que eles usavam como base para o sistema de numeração. O que anda sempre junto com a gente, onde quer que estejamos? Certamente que a resposta é nosso corpo. Nesse corpo temos duas partes simétricas que são as mãos. O que temos em cada mão? Cinco (5) dedos. Juntas elas tem dez (10) dedos. Eu não tinha certeza de como seriam escritas as palavras e procurei na internet, onde encontrei um texto escrito por um indígena, formado professor e que fala exatamente sobre isso. O link para acessar o texto é https://guaraniuruity.wordpress.com/2011/06/27/historias-dos-numeros-guarani/. Ele começa falando na questão da área, uma das coisas importantes na vida deles. O tamanho de uma casa, um pedaço de terra e por aí afora.

            O sistema de numeração, tendo por base os cinco dedos de uma mão, é portanto um sistema de base 5. Se fôssemos escrever em algarismos arábicos teríamos: 0, 1, 2, 3, 4 e 5. Daí para frente começaríamos a formar grupos de cinco, isto é uma mão. As duas mãos, dariam dois grupos de cinco e portanto 10. O quinze seriam três mãos e assim por diante. Entre os nomes da numeração que o texto me forneceu e o que eu havia aprendido há quase 40 anos, existe uma pequena diferença que eu não sei exatamente qual é a razão. Provavelmente uma diferença de diferentes grupos étnicos ou algo assim.

            Vejamos então:   Petei = 1 ( til sobre o i, mas o editor não aceita).                   
                                 Mokoi = 2 (também tem o til no i)
                                Mboapy = 3
                                Irundy = 4
                                Petei po = 5 [um(a) mão]
                                Mboapy meme = 6
                                Mboapy meme petei = 7
                                Irundy meme = 8
                                Irundy meme petei = 9
                                Mokoi po = 10 [dois(duas) mãos]

         Aqui o texto parou e não informou como prosseguiria a contagem depois de dez. A diferença de que falei acima, é nos números 6, 7, 8, 9. Na forma como aparecem no texto dá impressão de que são tidos como 6 = três duas vezes, ou dobro de três. 7 = dobro de três mais um; 8 = dobro de quatro e 9 = dobro de quatro mais 1. Procurei num mini-dicionário (http://povodearuanda.wordpress.com/2007/12/03/mini-dicionario-tupi-guarani/), mas não encontrei o termo “meme”. Por isso tenho a impressão de que havia divergência entre diferentes etnias guaranis (Guarani Kaiowa, Guarani Nhandeva e Guarani Mbya), espalhadas por boa parte do território nacional, inclusive Uruguai e Paraguai.

            Eu havia aprendido a chamar o seis de:
                   Petei po petei = uma mão e um ou 5 + 1 = 6
                   Petei po mokoi = uma mão e dois ou 5 + 2 = 7
                   Petei po mboapy = uma mão e três ou 5 + 3 = 8 
                   Petei po irundy = uma mão e quatro ou 5 + 4 = 9

            Conforme falei antes, isso deve ser devido à diferenças étnicas e regionais. Embora, dentro da lógica matemática, a forma de agrupar como eu havia aprendido parece mais racional e lógica. No entanto não sei dizer com certeza qual é a opção correta ou verdadeira. Talvez ambas dependendo da população.
            Seguindo a contagem na forma como aprendi, teríamos:
                        Mokoi po petei = 11 (duas mãos e um)
                   Mokoi po mokoi = 12 (duas mãos e dois)
                   Mokoi po mboapy = 13 (duas mãos e três)
                   Mokoi po irundy = 14 (duas mãos e quatro)
                   Mboapy po = 15 (três mãos)
                   Mboapy po petei = 16 (três mãos e um)
                   Mboapy po mokoi = 17 (três mãos e dois)
                   Mboapy po mboapy = 18 (três mãos e três)
                   Mboapy po irundy = 19 (três mãos e quatro)
                   Irundy po = 20 (quatro mãos)
                   Irundy po petei = 21 (quatro mãos e um)
                   Irundy po mokoi = 22 (quatro mãos e dois)
                   Irundy po mboapy = 23 (quatro mãos e três)
                   Irundy po irundy = 24 (quatro mãos e quatro)

            É provável que houvesse algum grupo indígena com uma forma de contagem além desses números, mas não sei ao certo, nem encontrei registros. O mais provável é que daí para frente, eles não sentissem necessidade de contar, pois passava a ser considerado “muito”. Os gestos com as mãos provavelmente davam conta do recado. Isso pode ter gerado muitas dúvidas pois muito é bem genérico e impreciso. Para as condições de vida dos indígenas na época em que os brancos aqui chegaram, dificilmente houvesse necessidade de contar além de 24 ou talvez 25. O resto ficava por conta de “muito” e pronto.

Lugar de reuniões dos homens da tribo.

Ocas feitas totalmente de palha e varas ou bambu.

            Ao aprendermos os números, inicialmente fazemos uma ideia errônea a respeito. Eles nos parecem os únicos símbolos numéricos. Depois de algum tempo aparecem os algarismos romanos, onde existem símbolos diferentes e o que eles representam, depende da posição em relação ao símbolo de maior valor que vem ao lado. Por exemplo: I = 1;  V = 5. Se escrevermos IV = 4, ou seja o 1 é subtraído do 5. Se ao contrário escrevermos VI = 6 ou VII = 7 ou VIII = 8, o 1, o 2 ou 3 são somados ao 5.
            Já X = 10 e IX = 9, XI = 11, XII = 12, XIII = 13 e XIV = 14.

            Imaginaram fazer cálculos como adição, subtração, multiplicação e divisão, usando algarismos romanos em lugar dos habituais arábicos? Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Ficaria um bocado mais complicado, embora não impossível. Eu nunca tente, mas prometo que num momento de folga vou tentar e ver como é que fica. Se valer a pena, escrevo um artigo contando o resultado, porém não prometo para quando. Até mais
                        Décio Adams

         

3 comentários:

  1. Nossa que interessante a forma deles fazerem matemática vou indiquei para meus amigos no face https://www.facebook.com/Dandoumgoogle/posts/896764110342300
    Obrigada isso é muito valioso.

    ResponderExcluir
  2. Muito legal,eu quero sua ajuda para fazer um plano de aula de matemática em guanandi aki na minha aldeia me ajude

    ResponderExcluir