Falando de cálculo mental!
Em decorrência do assunto que anda me
ocupando os pensamentos e dá título a esse texto, lembrei de uma declaração dada
em certa época do passado e que eu li em uma revista. O declarante era um
psicólogo e dizia que, na sua opinião, o primeiro presente que deveria ser dado
a um recém nascido, era uma calculadora eletrônica. Afirmava ele que fazer
cálculos era uma forma de suplício, tortura do cérebro de qualquer pessoa.
Analisando as palavras do ilustre
profissional, cheguei à conclusão de que ele deveria desconhecer completamente
os mecanismos de aprendizagem e desenvolvimento intelectual de um ser humano. Nascemos
providos de algumas ferramentas herdadas geneticamente, não na diferenciação do
DNA, mas numa certa memória que nos levam a fazer instintivamente algumas
coisas, das quais depende nossa sobrevivência. Isso faz parte também dos demais
seres vivos. Quem teve oportunidade de observar uma mãe animal, gata, cadela,
porca ou outro animal qualquer parir seus filhotes, deve ter observado que, a
primeira coisa que eles procuram é encontrar as tetas da mãe e começar a mamar.
Por que isso? A natureza lhes deu esse instinto, essa herança. Sem isso eles
ficarão fracos e terão grande chance de não resistir às agressões do mundo que
terão que enfrentar.
Já as demais habilidades que temos
aptidão para adquirir, dependem de exercícios. Pouco importa que sejam aptidões
físicas ou intelectuais. Ninguém consegue saltar 7,0 ou 8,0 de distância na
primeira tentativa. São muitas horas de treinos, fortalecimento muscular,
técnicas de corrida, impulsão e formas de saltar que levam alguém a ser
campeão. Isso se aplica a todas as aptidões. As intelectuais não são
diferentes. A falta de exercício, impede o desenvolvimento. Quando alguém sofre
um acidente, sendo obrigado a permanecer por um longo período de cama,
engessado, imobilizado, no dia em que se livra desses obstáculos, não consegue
levantar e sair caminhando normalmente. Vai precisar passar por um período de
adaptação, preferencialmente algumas sessões de fisioterapia para readquirir a
desenvoltura anterior. Vivi isso em minha vida, quando operei o ombro direito
para reconstituir o ligamento do tendão denominado manguito rotador. Ao tirar o
braço na tipoia, não conseguia erguer a mão nem a altura do rosto sem ajuda. Em
menos de dois meses não sentia mais nada. Meu ombro e braço estavam normais.
Talvez o psicólogo citado no início
tenha sofrido algum trauma nos seus anos de escola e com isso ficado tão
obcecado com a libertação das “torturas” representadas pelos cálculos
matemáticos. Ao longo da vida, tenho visto situações em que, para fazer (2 + 3)
e encontrar que é 5, a pessoa ter todo o trabalho de retirar uma calculadora do
bolso ou da pasta, ligar e digitar para ter a resposta. Concordo que em
situações de transações comerciais, deve-se usar as máquinas, até mesmo para
ter o registro em fita das operações, para eventuais conferências posteriores.
Porém vivenciei situações em que fui pagar dois ou três artigos de valores
pequenos ou mesmo um pouco maiores. Antes que o caixa tivesse tempo de digitar
o segundo valor eu já sabia a resposta, pois fizera a soma mentalmente. Não
venham me dizer que sou “gênio”, alguém excepcional. Sou absolutamente normal. Apenas
sempre fiz uma coisa. Sempre me recusei a ficar escravo de uma máquina, quando
tinha capacidade de alcançar a resposta por mim mesmo e em muito menos tempo.
Será que existe idade para desenvolver
essas habilidades? Provavelmente se começarmos crianças, jovens, alcançaremos
um grau de agilidade mental incrivelmente alto. Mas posso afirmar que, em
qualquer idade, é possível melhorar, e muito, nossa habilidade. Basta começar
devagar. Não podemos querer começar fazendo altas operações, porque iremos nos
decepcionar e logicamente desistir com a desculpa de que não estamos mais em idade
de fazer isso, nossa memória não é mais tão boa, ou outras desculpas diversas. Assim
como o exercício físico melhora as condições dos idosos, aliviando as dores e as
dificuldades dos movimentos, também o exercício da memória aumenta a capacidade
de retenção, a agilidade de raciocínio. Quer se proteger contra a degeneração
do cérebro, perda de memória e outros males, comece a exercitar seus neurônios.
Eles irão lhe responder positivamente e agradecer o favor que estará fazendo a
eles. Até mesmo pessoas acometidas do mal de Alzheimer, melhoram suas condições
com a realização de exercícios. Essa atividade provoca a formação de novas
sinapses e mesmo estimula a regeneração neuronal.
Não sou especialista em neurologia, nem
em teorias psíquicas, nada disso. Atuei em sala de aula por mais de trinta
anos, fui estudante antes disso e aprendi muito cedo que, quanto mais exercitamos
nossa mente, melhor ela funciona. E se conserva intacta por muito mais tempo.
Não precisamos ter medo de que o cérebro gasta. As únicas causas de degradação
do nosso cérebro são má circulação, lesões acidentais, tumores, doenças
degenerativas, quando partes das células são danificadas. Nossa memória é
formada mesmo contra nossa vontade. Isso eu li nos livros de Augusto Cury,
psicólogo, pesquisador da mente humana, autor de livros diversos na área,
criador de uma teoria sobre as diferentes formas de Inteligência. Não nascemos
providos de um botão, ou tecla “delete”, como têm nossos computadores e outros
equipamentos elétricos.
Vamos ver algumas situações práticas
elementares para você começar a exercitar sua mente. Se já tem alguma
habilidade, aumente a dificuldade e treine. Se fizer isso irá se surpreender
com o resultado. Falando em prática, tente responder, apenas usando sua mente,
a memória para realizar as operações que vou propor:
a) 19 + 15
= ........ b) 24 + 17 = ............ c) 37 + 19 = ...........
d) 41 + 16
= ......... e) 13 x 9 =
.............. f) 54 – 19 = ..........
g) 17 + 24
= ......... h) 15 + 19 =
............ i) 75 – 27 = ..........
Esses exemplos podem dar uma ideia do
que fazer e você mesmo pode criar a partir daí quantos exercícios quiser. Basta
pegar dois números ou mais, fazer a soma, a subtração. Se quiser confirmar,
pode ter ao lado uma calculadora e conferir para criar mais confiança, não para
se viciar na calculadora. Embora a calculadora pareça mais fácil de usar, ela
apresenta os inconvenientes. Você pode não estar com ela à mão, pode ter
acabado a pilha ou bateria, pode ocorrer de apertar a tecla errada e não
perceber, consequentemente ela não vai te dar a resposta ou ela estará errada. Você
poderá confiar nela mais do que no seu cérebro. Isso pode ter sérias
consequências. Não ter nem ideia do resultado, fará você confiar na máquina e o
resultado estar errado. Dependendo da situação, isso pode dar até um bom prejuízo.
Agora que você já leu esse novo trecho,
vejamos como se pode fazer as operações que propus acima.
a)
19 + 15 há várias maneiras de obter o resultado. Você
pode fazer a soma mentalmente das unidades e dezenas. Somando os resultados,
terá a resposta. Assim 9 + 5 = 14 e 10
+ 10 = 20 , o que resulta, 34.
Por outro lado
vamos lembrar que 19 é 20 – 1. E 20 + 15 = 35. Se tirar 1 de 35, também teremos
34. Percebeu?
b)
54 – 19 = ........
Que tal fazermos 54 – 20 = 34. Como diminuímos 1 a mais, vamos somar esse mesmo
1 ao 34 e teremos a resposta 35. Também podemos fazer mentalmente o processo que
fazemos ao colocar no papel o 19 sob o 54 e recorrer ao tal do “empresta 1”. Iríamos
fazer 14 – 9 = 5. O 5 que emprestou 1 ao 4, passaria a ser 4 e subtraindo 1,
fica 3. Juntando os dois resultados formaremos o 35. Note que esse
procedimento, embora correto, é mais demorado e existe mais risco de errar.
Mesmo assim cabe a você eleger o modo que mais lhe agrada ou melhor se adapta.
c)
13 x 9 = ....
Separando o 13 em
suas unidades e dezenas teremos 10x9 = 90 e 3x9 =27. A soma dos dois resultados
irá nos dar a resposta 117. Uma outra forma seria fazer 13 x 10 = 130 e daí
subtrair 13, encontrando o mesmo 117. Por que isso? Nós multiplicamos por 10 em
lugar de 9. As “manhas” ou macetes para fazer essas operações mentalmente, são
muitas. Cada um se adapta melhor com umas que outras. Cabe a escolha e o
treino.
Assim como as
manhas são muitas, a quantidade de exercícios é infinita. Crie à vontade, monte
suas continhas. Isso pode ser feito até enquanto está andando de ônibus, de
carro, bicicleta, caminhando, correndo ou sentado esperando por alguma coisa ou
alguém.
Durante minha vida, houve muitas
ocasiões em que, especialmente ao preencher ficha cadastral em alguma loja, ao
informar a profissão, logo vinha a pergunta: ê
- Professor do quê?
Ao dar a resposta vinha, com raras
exceções, uma expressão de pavor, seguida da tradução verbal do sentimento:
- Eu não entendo matemática. Eu não
entendo física, queria saber quem foi que inventou essa coisa. Como é que
consegue gostar disso?
Via de regra eu procurava mostrar que o “bicho”
é menos feio ou brabo do que é pintado. Em geral quando o aluno se defronta com
os conteúdos um pouco mais avançados, ele já traz informações negativas ouvidas
de irmãos mais velhos, vizinhos, amigos, tios e tal. Vem com uma ideia
pré-concebida de que são coisas difíceis e quase impossíveis de entender. É preciso
uma capacidade especial para dominar esses conteúdos, o que não é o caso de
maneira alguma. Há sim, quem tenha maior facilidade de dominar essa ou aquela
disciplina, mas todos possuem aptidão, salvo os deficientes mentais, que lhes
permite alcançar um desempenho satisfatório. Não temos necessidade de sermos
todos experts, mas precisamos saber ao menos o suficiente para entender coisas
simples da vida moderna.
Se você quer trocar ideias comigo sobre
esse assunto, procure no facebook o grupo Apreciadores
de cálculo mental e faça parte. Não tenha receio de perguntar. Não vou
achar nenhuma pergunta absurda ou ridícula. O objetivo é ajudar. Colocar, o que
a vida me ensinou, à disposição de todos. Na pior das hipóteses poderemos
trocar mensagens interessantes. Lá também vai encontrar outras postagens que
fiz sobre o assunto.
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